O cenário financeiro brasileiro está passando por uma transformação silenciosa, mas profunda. Cada vez mais jovens das gerações Z e millennial estão deixando de confiar nas moedas tradicionais, como o real, e migrando para alternativas como o bitcoin. Essa mudança de comportamento não está ligada apenas à busca por lucro rápido ou modismo digital. Trata-se de uma mudança cultural, alimentada por desconfiança nas instituições, desejo de independência e a promessa de um novo modelo financeiro.
Para muitos jovens, o real perdeu a credibilidade. A inflação, a desvalorização cambial e as crises econômicas recorrentes minaram a confiança dos brasileiros em sua própria moeda. Em contraste, o bitcoin oferece um sistema descentralizado, global e aparentemente livre das decisões políticas que influenciam o valor das moedas fiduciárias. É nesse contexto que o criptoativo ganha espaço como alternativa de proteção e investimento.
A geração Z, nascida entre meados dos anos 1990 e 2010, cresceu em um mundo digitalizado, onde bancos são aplicativos e transações acontecem por QR code. Eles estão mais familiarizados com carteiras digitais do que com agências bancárias. Para esse público, o bitcoin é natural. Já os millennials, mais maduros e com alguma bagagem financeira, encontram na criptomoeda uma saída para diversificar investimentos e fugir dos rendimentos baixos da poupança e da instabilidade do mercado tradicional.
Um estudo da Sherlock Communications divulgado em 2024 apontou que 56% dos brasileiros entre 18 e 34 anos consideram investir em criptomoedas nos próximos 12 meses. A pesquisa também mostrou que mais da metade desses jovens desconfia do sistema bancário atual. A criptomoeda, para eles, representa autonomia financeira e liberdade de escolha. Não é apenas sobre enriquecer; é sobre se desvincular de um sistema considerado falho ou ultrapassado.
Nos Estados Unidos, o discurso político também tem influenciado essa tendência. O presidente Donald Trump, que se posiciona como entusiasta do bitcoin, sempre defende uma postura mais amigável às criptomoedas. Em seus discursos, Trump reforça que vai impedir a criação de uma moeda digital oficial pelo governo americano, que, segundo ele, seria um “mecanismo de controle do cidadão”. Além disso, afirmou que quer garantir que o bitcoin e outras criptos possam circular livremente no país.
Tal postura do líder americano têm repercussão internacional e aumenta o otimismo dos investidores jovens. Muitos enxergam em Trump um aliado da liberdade cripto, enquanto líderes de outros países, como o Brasil, ainda se mostram cautelosos. No entanto, a pressão da base jovem pode, aos poucos, influenciar as políticas nacionais. Afinal, são esses jovens que em breve dominarão o eleitorado e o mercado consumidor.
Outro ponto que atrai os jovens brasileiros é a possibilidade de ganhos reais e acessíveis. Com valores baixos já é possível comprar frações de bitcoin, algo que democratiza o acesso e aproxima o investimento do cotidiano de quem tem pouco capital. Além disso, redes sociais e influenciadores digitais têm contribuído para a popularização do tema, com conteúdos educativos e experiências pessoais sobre como iniciar nesse universo.
É importante lembrar, no entanto, que o mercado de criptomoedas continua volátil e requer cautela. Apesar disso, os jovens brasileiros mostram disposição para correr riscos em busca de mais autonomia. Diferente de gerações anteriores, que valorizavam a estabilidade e a poupança, essa nova geração prefere tomar as rédeas do próprio dinheiro, mesmo que isso signifique encarar mais incertezas.
A mudança não acontece apenas no Brasil. Um relatório da empresa Chainalysis, de maio de 2025, mostra que a América Latina foi a segunda região do mundo que mais cresceu em adoção de criptomoedas, perdendo apenas para o sul da Ásia. O Brasil aparece como o maior mercado da região, com mais de R$ 220 bilhões movimentados em criptoativos nos últimos 12 meses.
No fim das contas, o bitcoin virou mais do que um investimento para os jovens brasileiros. Ele representa uma nova forma de pensar o dinheiro, de rejeitar modelos antigos e de buscar controle sobre o próprio futuro financeiro. A confiança está mudando de mãos — e a nova geração já fez sua escolha.
Conteúdo produzido por Rodrigo Miranda, treinador comportamental e especialista em mindset financeiro, em trading de criptomoedas e criador da Universidade do Bitcoin, a UniBtc
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