Nova Délhi, 30 de junho de 2025 — Depois de anos empurrando com a barriga, a Índia promete enfim publicar seu tão falado “documento de discussão cripto” em julho. O foco? Stablecoins. O objetivo declarado é avaliar como esses tokens lastreados poderiam baratear e acelerar remessas internacionais — mas, como sempre, sem bater o martelo sobre regulamentação real.
O texto será elaborado por um grupo liderado pelo Departamento de Assuntos Econômicos (DEA) e deve seguir a cartilha americana sobre stablecoins. Mas não espere nada ousado: será um documento neutro, feito para rodar entre ministérios, reguladores e empresários — a típica manobra para ganhar tempo sem se comprometer.
Stablecoins na vitrine, mas o Banco Central não compra
As stablecoins, como USDT e USDC, movimentam mais de US$ 240 bilhões e são vistas como a ponte entre o cripto e o “mundo real”. O Banco Central da Índia torce o nariz: teme riscos, emissores duvidosos e a invasão de moedas gringas — no fundo, teme perder o trono. Já o SEBI quer surfar a onda e sugere fatiar o mercado, com cada órgão cuidando do seu pedaço. No bastidor, a briga é feia: enquanto o RBI freia tudo, outros setores do governo tentam acelerar. Clássico.
Remessas: o único consenso
Se há um ponto em comum, é o potencial das stablecoins para cortar custos. Hoje, a Índia recebe US$ 130 bilhões por ano em remessas — mas joga fora até US$ 5 bilhões em taxas. Com stablecoins, essa mordida cairia para cerca de US$ 500 milhões, segundo Edul Patel, CEO da Mudrex. “É um caso prático — e urgente.”
Discussão pública… só pra dizer que teve
Nada do que será publicado em julho terá força legal. A ideia é fingir movimento enquanto se evita qualquer decisão concreta. Haverá consultas públicas, ajustes de versão e, claro, mais adiamentos. A velha arte de empurrar para as calendas gregas.
Mercado cresce apesar do governo
Enquanto a burocracia debate o óbvio, o mercado não espera: o setor cripto na Índia, estimado hoje em US$ 2,5 bilhões, deve ultrapassar US$ 15 bilhões até 2035, mesmo sem regras claras. Em cidades pequenas, jovens investidores seguem adotando cripto como se fosse inevitável — e talvez seja mesmo.
O documento que sai em julho pode até parecer um marco. Mas na prática, é só mais uma peça no jogo de xadrez político que a Índia joga com o próprio futuro digital. Se depender do governo, a revolução cripto vai esperar. E esperar. E esperar.
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