São Paulo, 18 de junho de 2025 — O clima em Frankfurt já não é mais de espera. A Europa não aceita mais só assistir de longe enquanto o jogo do dinheiro digital avança. Agora, o discurso é de protagonismo — e com um pacote robusto: Euro Digital, tokenização e DLT no centro da mesa. Agora, o plano é construir o próprio campo, com regras próprias. E rápido.
O aviso partiu de Piero Cipollone, integrante da diretoria executiva do Banco Central Europeu (BCE). Num discurso que já está repercutindo em Bruxelas e nas mesas de operação, ele deixou claro: Euro Digital, tokenização de ativos e DLT (tecnologia de registro distribuído) vão ser os pilares da nova fase do sistema financeiro europeu.
Sistema de pagamentos na Europa? Um quebra-cabeça mal montado. Cada país com sua regra. Tarifas que mudam de cidade pra cidade. E o que mais incomoda os reguladores em Bruxelas: a engrenagem por trás de boa parte dessas operações está nas mãos de empresas de fora — muitas delas, americanas.
A leitura é direta: a Europa cansou de ser coadjuvante dentro da própria casa. Agora, a missão é assumir o comando e construir uma infraestrutura própria, sem intermediários globais.
Com o uso de dinheiro em espécie caindo e as big techs avançando sobre o território financeiro, o BCE sabe que a soberania europeia está em jogo.
A resposta? Um euro digital aceito em qualquer canto da Europa, disponível para todos. Uma moeda digital que não seja apenas um produto de banco central, mas uma base para o setor privado criar soluções que funcionem além das fronteiras.
Não é só moeda. É infraestrutura.
Quando o BCE fala em transformação, não está falando só de criar um novo “meio de pagamento”. A conversa agora é sobre infraestrutura de mercado, e os termos-chave são DLT e tokenização.
A lista de promessas é ambiciosa:
• Pagamentos liquidados a qualquer hora, todos os dias da semana
• Negociação, custódia e liquidação funcionando num só ambiente
• Contratos inteligentes rodando de forma automática e integrada
No papel, tudo parece distante. Mas o BCE garante: a ideia é baixar a barreira de entrada, cortar a burocracia e dar espaço para que até players menores consigam acessar o mercado de capitais com mais facilidade e menos custo.
O BCE já está testando como liquidar transações institucionais (wholesale) usando DLT, começando por conexões com os sistemas TARGET. O objetivo de fundo? Uma espinha dorsal digital que conecte todo o bloco europeu em tempo real.
Mas o BCE sabe que está entrando numa corrida que já começou faz tempo. Outros países avançam. As big techs também. A Europa, se quiser jogar pra valer, precisa correr.
Pra isso, os projetos estão saindo do papel. A ideia é simples: ligar o sistema europeu a redes de pagamentos instantâneos de fora.
Menos burocracia. Mais velocidade.
Tudo pra garantir que o continente não fique de fora da próxima fase da infraestrutura financeira global.
A plataforma TIPS, que já permite liquidação em múltiplas moedas, será um dos alicerces dessa integração. A ideia é simples: permitir que, em breve, uma transação em euros possa ser liquidada em segundos com outras moedas globais, direto em dinheiro de banco central.
“Estamos criando as bases para uma rede global de pagamentos rápidos e seguros”, disse Cipollone. No pano de fundo: soberania, competição e um BCE que não quer mais correr atrás. No fim das contas, o discurso de hoje deixa um recado claro: a Europa cansou de ser passageira no bonde da inovação financeira global.
Agora, a pergunta que fica nos bastidores é só uma: o BCE vai conseguir entregar isso antes que as big techs e os outros bancos centrais ocupem de vez o espaço?
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