A gestora global BlackRock incluiu, em um registro apresentado à SEC para seu fundo de Bitcoin, um alerta sobre um risco ainda distante: computadores quânticos podem, no futuro, quebrar a criptografia que protege a rede.
Segundo o documento, o Bitcoin depende de dois mecanismos — SHA-256 e ECDSA — para blindar carteiras e garantir que só o dono da chave privada mova as moedas. Caso processadores quânticos se tornem potentes o bastante, eles poderiam decifrar essa chave e esvaziar o saldo logo após uma transação ser iniciada, mas antes de receber confirmações na blockchain.
A companhia observa que, hoje, isso ainda não é possível; especialistas estimam uma janela de dez a vinte anos até que a computação quântica alcance força suficiente para tal façanha. Mesmo assim, a BlackRock decidiu mencionar o cenário para que o mercado corporativo leve a ameaça a sério, lembrando que a fragilidade se estenderia a inúmeras tecnologias que utilizam os mesmos algoritmos de segurança.
É a primeira vez que a gestora descreve o problema com tanta clareza, sinalizando atenção redobrada aos desafios de longo prazo. Desenvolvedores de Bitcoin, por sua vez, trabalham em uma proposta chamada QRAMP, que migraria usuários para novos endereços capazes de resistir a ataques quânticos. Essa mudança exigiria um “hard fork” — atualização drástica, incompatível com versões antigas, que obriga toda a rede a adotar o novo padrão.
Outras blockchains também pesquisam assinaturas pós-quânticas, mas a transição envolve custos de computação maiores, o que pode reduzir a velocidade das transações. Além disso, seria preciso coordenar mineradores, corretoras, carteiras e usuários para que todos troquem de sistema ao mesmo tempo.
O alerta da BlackRock reforça a necessidade de preparar -se agora: se os computadores quânticos alcançarem poder para quebrar a proteção atual, já será tarde para corrigir o problema sem perdas. Por isso, o setor testa novas criptografias, educa usuários sobre as futuras trocas de endereço e pressiona reguladores por diretrizes que garantam a segurança dos ativos digitais na era pós-quântica.
Leia também: BlackRock vendeu US$429 milhões em Bitcoin? Só se for na sua cabeça